sábado, 18 de setembro de 2004

O Tempo

Fiz uma série de resoluções...
Bem, foram só 3, uma fácil, uma muito díficil e uma ainda incerta e enevoada.
Tenho vindo a adiá-las há um tempo, a pensar que fica pra depois, daqui a uns tempos...
Mas não quero adiar mais, quero que o momento ideal seja agora, aproveitar todo tempo que tenho, antes que ele me pregue uma partida...


Excerto de "As I Walked Out One Evening ", escrito em 1937

"The years shall run like rabbits,
For in my arms I hold
The Flower of the Ages,
And the first love of the world.

But all the clocks in the city
Began to whirr and chime:
O let not Time deceive you,
You cannot conquer Time."

W. H. Auden

quarta-feira, 15 de setembro de 2004

Audição

Ao som de Sigur rós – ( )

Hoje escrevo sobre o próximo sentido - a audição. E ainda bem que este pequeno momento de escrita decorre ao som de um tão brilhante e genial som. Assim, escreverei de outro sítio qualquer, outro mundo, outro ser...

Such are promises, all lies and jest.
Still a man hears what he wants to hear
and disregards de rest.
Simon & Garfunkel
O que é que eu gosto de ouvir?
Ora, toda a gente sabe - Música!! Dever-me-ei perguntar então "O que é música para os meus tão delicados ouvidos?".
Ohhhhhhh
O maaaar, as ondassss a bater nas rochas, a espuma das ondas, as gaivotas.
As gotas, gotinhas e gotonas das chuva, a chuva, a chuvinha e a chuvona, a caírem no alguidar cheio de água, no mar, nos vasos das flores, a descerem a rua, a baterem na minha janela.
A primavera, os passarinhos, as andorinhas e os pardais, a rola, o canário e o periquito.
Um bater de porta, um toque de campaínha, os passos de quem chega, um telefone, um telemóvel a tocar, na hora certa.
Os cânticos que acompanham os orgãos nas igrejas, os sinos e os relógios que anunciam algo.
O Artémis a miar, a ronrrrrrronarrrrrr e a fazer uma série de outros sons que não sei o nome, que me levam ao céu.
Um beijo, um susssssurro, um gemmmmido de prazerrrr, os sons do amor.
Palmas, uma faca num copo, a mão numa perna ou numa mesa, um asssssobio de um dedo que gira num copo de cristal.
Um segredo. Um elogio.
Um comboio a chegar ou a partir da estação.
A palavra Goooooooooooolo.
O meu nome, excitado, calmo e sereno.
A voz de quem gosto.
Música...

terça-feira, 14 de setembro de 2004

I Wish

o que me chateia mesmo é a falta de tempo
eu vou a um site com um milhão de links
cada um com outro milhão de links
e eu sei que não posso ver todos e queria
e depois tenho que escolher
e nem sempre escolho bem
e detesto tomar decisões
e estou farta disto tudo!
e também queria falar francês, e chinês, e alemão
e queria saber desenhar e pintar
e também quero tocar bateria, harpa e gaita de foles
e quero ter tempo pra ouvir todas as músicas do mundo!
e que me saia a lotaria
e ir ao Japão e comprar tudo o que só há lá
e queria que o Japão fosse já aqui ao lado
ah, e também quero que o Artémis comece a falar!
e sim, sei que não estou doida
só quero dizer tudo o que quero dizer

uh, que post excelente!

Delusion angel by David Jewel

O meu filme preferido é o Before Sunrise.

Daydream, delusion, limousine, eyelash
Oh baby with your pretty face
Drop a tear in my wineglass
Look at those big eyes
See what you mean to me
Sweet-cakes and milkshakes
I'm delusion angel
I'm fantasy parade
I want you to know what I think
Don't want you to guess anymore
You have no idea where I came from
We have no idea where we're going
Latched in life
Like branches in a river
Flowing downstream
Caught in the current
I'll carry you
You'll carry me
That's how it could be
Don't you know me?
Don't you know me by now?

quinta-feira, 2 de setembro de 2004

Eternidade

Lembro-me dos candeeiros da Nazaré. Aquela luz fosca laranja colada à parede das casas. A luz pálida que entrava nas janelas, protegidas apenas por um cortinado de flores de um tecido barato. Cortinados de flores com anos, testemunhas de dias prazerosos de praia. Os candeeiros de luz laranja das ruas da Nazaré. Aquelas ruas pequenas com calçada de pedras irregulares, polidas pelos passos das varinas. Calçada que fede a peixe e dejectos caninos. Espinhas abandonadas, dispersas nos intervalos das pedras. Pequenas travessas que unem as ruas compridas que vão dar à praia. Areia e mar. Cheiro a peixe que seca nos passeios da praia. Marginal que fede a peixe aberto ao meio que seca ao sol. Sorvetes de cones cobertos da fuligem do escape dos carros. Sorvetes de morango e baunilha. Chocolate e baunilha. Sorvetes que derretem no longo caminho até à barraca. Barracas de pano cru. Às riscas. Liso. Que fecham à hora do almoço, guardando segredos e pertences. Uma muda de roupa. Um beijo escondido. Urina e fezes de crianças enterradas na areia. Castelos que não levamos para casa. Que as ondas levam. Que um cão pisa. Que um humano destrói na tentativa de imortalidade. A Nazaré. Infância tornada eternidade.